Em tempos onde (quase) toda a música é digital e “perfeita”, poucos vão às salas de concerto e teatros escutarem a música pura sendo realizada ao vivo.
Você já foi a uma ópera?
Tenho acompanhando as óperas realizadas pela OSMG (Orquestra Sinfônica de Minas Gerais). Sempre me surpreendo com toda a produção. É de tirar o fôlego! Hoje irei falar sobre a atual ópera em cartaz: O HOLANDÊS ERRANTE de R. WAGNER (20 a 28 de Outubro de 2018) sob a regência do Maestro SILVIO VIEGAS.
Todo o espetáculo enche os olhos. Figurino, cena, efeitos… mas, para não cometer equívocos, vou focar na minha área de atuação, MÚSICA.
Quem realiza repertório sinfônico sabe que certos compositores fazem qualquer um tremer as pernas (Rs). Wagner é um deles! Sua música é densa, técnica e muito expressiva. Obviamente, no HOLANDÊS ERRANTE não é diferente. Já nos primeiros compassos, é possível imaginar o Mar em fúria! Ele expõe o tema principal com as trompas, passa pelos metais e por aí vai…até a barra final é emoção ao extremo! Me trás a lembrança das animações clássicas.
Sobre a orquestra…
Quem me conhece, já me ouviu falando a seguinte frase: – A OSMG tocando Ópera se transforma em outra orquestra!
Digo isso por que a OSMG é uma das orquestras mais experientes do país na realização de grandes óperas. Tendo em seu corpo músicos com muitas décadas de experiência no repertório operístico.
No Holandês, me surpreendeu a execução da OSMG! Mesmo no Palácio das Artes (que a acústica não é lá grandes coisas)… mesmo com a orquestração densa executada dentro do fosso, foi possível ouvir frases bem explicadas, entender a sequência de notas e camadas de efeitos.
A qualidade do equilíbrio de timbres da orquestra também merece destaque. Graves sólidos, conectados sem conflito. Nas seções de graves foi possível entender tímpanos, cellos, baixos, tuba e outros graves unidos, mas sem “vazamento sonoro”. Ouvia-se o “PP” dos tímpanos em “roll” claramente! Os médios, bem posicionados, com a dinâmica funcional. Isso tirou a sobrecarga de estresse de sons médios do ouvinte (sons médios em excesso cansa os ouvidos…). Os agudos: brilhantes e fechados! O que isso quer dizer? Agudos que não se sobressaíram desequilibrando os planos da orquestração (em orquestras inexperientes os agudos são brilhantes e abertos em excesso dando a impressão que a música está vazia). Para fechar com chave de ouro, a orquestra devidamente equilibrada, deu espaço ao coro tornando possível entender claramente o CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS e os solistas convidados: HERNAN ITURRALDE (Holandês – Barítono), TATI HELENE (Senta – Soprano), SAVIO SPERANDIO (Daland – Baixo), DENISE DE FREITAS (Mary – Mezzosoprano), PAULO MANDARINO (Erik – Tenor) e GUSTAVO EDA (Timoneiro – Tenor). Escutava-se Sílaba por sílaba, durante as duas horas e meia de ópera!
De fato, foi uma noite emocionante!
Parabéns aos músicos da ORQUESTRA SINFÔNICA DE MINAS GERAIS, CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS e SOLISTAS CONVIDADOS!